sexta-feira, 25 de abril de 2008

Filosofia azeteca ou asteca


Os estudantes do Maio de 1968 escreviam nas paredes de Sorbonne: "corre, camarada, corre, o velho mundo ficou para trás". O avançar, o correr pelo futuro urge, mas há sem dúvida resquícios mentais do passado em nós que não desapareceram, estão apenas latentes. As reminiscências das antigas civilizações estarão apenas adormecidas em nós?



 Pelo que entendi da história e filosofia Azteca (corrija-me quem vir que estou errada), diversos povos coexistiram no México, desde Maias, Zapotecas, Olmecas, Totonacas, Toltecas, Tlaxcaltecas, Tarascos, Otomies, Chichimecas, entre muitos outros. Atingiram notaveis conhecimentos em astronomia, construiram um calendário similar ao Maia e  formaram um sistema pictográfico e ideográfico da escrita. 

Quando os espanhóis chegaram ao vale do México (etimologicamente México significa no meio do lago da lua) depararam-se com uma lagoa (Metztliapan cujo significado etimológico é o lago da lua) imensa com canais que conduziam ao seu centro : a capital asteca. Estavam perante a "Veneza Americana". A cidade santa de Tenochtitlan era rodeada de uma muralha com cabeças de serpentes (coatepantli). Aí encontravam-se os santuários das principais divindades: Quetzalcoat (serpente emplumada, deus do vento e da estrela da manhã), Tezcatlipoca (deus do céu nocturno e protector dos jovens guerreiros)e Ciuacoalt (deusa-mãe).

A "escolha" deste local por parte dos astecas deveu-se ao facto do seu deus Uitzilopochtli (deus solar) se ter dirigido ao sacerdote Quauhcoatl (serpente-águia) dizendo-lhe: "descobre o cacto tenochtli sobre o qual pousará alegremente uma águia, é aí que dominaremos... É aí que será a nossa cidade, aí onde a águia lança o seu grito, abre as asas e come, aí onde nada o peixe, aí onde a serpente é devorada". 


A religião parecia assumir-se como o modo basilar da existência individual, familiar, social e política: “Oh, valoroso senhor nosso, sob cujas asas nos amparamos, nos defendemos e encontramos abrigo! Sois invisível e não palpável, como a noite e o ar! Oh, que eu, pequeno e de pouco valor, atrevo-me a aparecer diante de vossa majestade! ... Pois, o que então, ó senhor nosso, piedoso, invencível, impalpável, a cuja vontade obedecem todas as coisas, de cuja disposições pende o regulamento de todo a orbe, a quem tudo está sujeito, o que haveis determinado em vosso divino peito?” (Sahagún VI, 1).
  
  
Este padre franciscano Bernardino Sahagun recolheu por relato oral de nobres iniciados astecas muitas lendas bem como a história do povo (Sahagun parece inclusivé ter começado um modo de investigação e validação de relatos que ainda hoje é utilizado pelos antropólogos e inclusivé nas ciencias sociais e humanos). Esses nobres eram canonizados como deuses em Teotihuacan (quinto sol) e não morriam, mas despertavam de um sonho e convertiam-se em espíritos ou deuses. Para os astecas tratava-se de um local lendário, pois acreditavam que aí se tinha dado origem ao quinto sol, quando o deus leproso se sacrificou para criar esta era. A primeira era foi destruída em tempos remotos por jaguares (primeiro sol), a segunda por furacões ou vento (segundo sol), a terceira pelo fogo (terceiro sol), e a quarta desapareceu com um dilúvio de água (quarto sol). Como se constata estão aqui presentes os quatro elementos básicos (terra, ar, fogo e água). 
 
Este povo praticava sacríficios que para nós são enigmáticos (arrancar corações ou a pele a pessoas ainda vivas), pois o sangue humano oferecido aso deuses revitaliza todas as fontes de energia, alimentando as reservas de força simbolizadas, irradiadas e concentradas no e pelo sol. O asteca também se preocupava com o ensino da moral, procurando instruir os jovens para conhecerem as normas que regulamentavam a sociedade. 
Penso que foi com esta civilização que os espanhóis se depararam e que destruiram/aniquilaram pouco tempo mais tarde.

4 comentários:

Efer disse...

Que agradável passeio por este tema! A paixão pela História leva-me sempre a beber sequiosamente o que se refere à nossa memória colectiva, neste caso global pois é da memória da humanidade. E é sempre tão atractivo tentar compreender uma mentalidade, um paradigma mental colectivo tão diferente do nosso. Às vezes pergunto-me: quantas "humanidades" existiram, existem e existirão?
Última nota: achei curioso Sahagun ter feito escola até aos dias de hoje.

soy yo disse...

Para além da Biblia não me lembro de ter visto Efer noutro lado , perdão pela ignorância. Mas quanto a si é um prazer tê-lo por cá... Esta questão das humanidades, prende-se tb com o que é isto de ser humano. Que exigências nos são feitas? O que é esperado de nós? Espero tê-lo por cá mais vezes...

Isabel Gomes disse...

Da tua pergunta: "As reminiscências das antigas civilizações estarão apenas adormecidas em nós?" - inevitavelmente, sim.
Por exemplo, nos arquétipos de Jung (imagens primordiais inscritas no inconsciente colectivo), ou então na teoria da evolução darwiniana, em que os organismos melhor adaptados passam às gerações seguintes os genes que permitem a sobrevivência, e que como tal foram "memorizados" nos códigos genéticos e depois, silenciosamente distribuídos...

Parabéns pelo blog.

soy yo disse...

Gosto de sabor dos arquétipos, a intemporalidade que neles vigora, "captá-los" é que por vezes se complica...
obrigada pela visita, vá passando por cá...