terça-feira, 29 de abril de 2008

domingo, 27 de abril de 2008

Sinopse de Orbe



“A Acrópole desde a colina das musas
               

Jardim de pedra suspenso


como um catafalco


no alto da colina abrupta

em capítulos de mármore do Pentélico


o vocabulário das duas ordens clássicas


dá-se a ler no movimento leve da luz sobre as colunas”    



Se eu conseguisse compreender toda a poesia como sinto este poema:

"De cada vez que a História se imita 

fica-nos só este desmedido sonho 

de ruínas (nem laudes, nem glória) 

por entre o ar laudanizado no latim 

 e no árabe. O templo da Corcórdia 

é o inacabado museu ao alto da escarpa, 

entre dois rios mudos de água, 

onde cada pedra caída cumpriu 

um destino agora que o esquecimento 

de nenhuma memória em lassidão 

envolve a «tensão do equino»: 

salváveis, se um pensamento aqui 

se detém, só as gotas de água 

 que na pedra se fizeram duras 

e durando como a minúscula rosa

 de Rodes a um ângulo das colunas 

abrem-nos com a sua presença, indelével 

                  entre os escolhos, uma passagem"                  

                         Paulo Teixeira(p. 58) 

sábado, 26 de abril de 2008

Definir liberdade é cliché?

Ao longo deste dia, ouvi coisas, as coisas não me ouviram porque não falei, inferi...  Não passei pela revolução dos cravos "in loco", mas pude vivenciá-la na minha cabeça. Não é real? O que é real aqui? Liberdade de não ficar presa nos emaranhados das comunicações neuronais, de poder sair à rua sem uma estrela no peito, de convidar alguém para um algo, para um nada, de acima de tudo sentir-me presa e livre em mim mesma, de ter um lugar no mundo onde não estar. É um acontecimento não comum que está por aí à solta em alguém, nas leis da natureza, no desconcertado, no uníssono, na palavra, no existir...É ousar com pretensão aspirar a  Caeiro, e dizer que para ser feliz basta senti-la, nada de compreensões, embora ela concentre bastante metafísica em si:-) 


sexta-feira, 25 de abril de 2008

Filosofia azeteca ou asteca


Os estudantes do Maio de 1968 escreviam nas paredes de Sorbonne: "corre, camarada, corre, o velho mundo ficou para trás". O avançar, o correr pelo futuro urge, mas há sem dúvida resquícios mentais do passado em nós que não desapareceram, estão apenas latentes. As reminiscências das antigas civilizações estarão apenas adormecidas em nós?



 Pelo que entendi da história e filosofia Azteca (corrija-me quem vir que estou errada), diversos povos coexistiram no México, desde Maias, Zapotecas, Olmecas, Totonacas, Toltecas, Tlaxcaltecas, Tarascos, Otomies, Chichimecas, entre muitos outros. Atingiram notaveis conhecimentos em astronomia, construiram um calendário similar ao Maia e  formaram um sistema pictográfico e ideográfico da escrita. 

Quando os espanhóis chegaram ao vale do México (etimologicamente México significa no meio do lago da lua) depararam-se com uma lagoa (Metztliapan cujo significado etimológico é o lago da lua) imensa com canais que conduziam ao seu centro : a capital asteca. Estavam perante a "Veneza Americana". A cidade santa de Tenochtitlan era rodeada de uma muralha com cabeças de serpentes (coatepantli). Aí encontravam-se os santuários das principais divindades: Quetzalcoat (serpente emplumada, deus do vento e da estrela da manhã), Tezcatlipoca (deus do céu nocturno e protector dos jovens guerreiros)e Ciuacoalt (deusa-mãe).

A "escolha" deste local por parte dos astecas deveu-se ao facto do seu deus Uitzilopochtli (deus solar) se ter dirigido ao sacerdote Quauhcoatl (serpente-águia) dizendo-lhe: "descobre o cacto tenochtli sobre o qual pousará alegremente uma águia, é aí que dominaremos... É aí que será a nossa cidade, aí onde a águia lança o seu grito, abre as asas e come, aí onde nada o peixe, aí onde a serpente é devorada". 


A religião parecia assumir-se como o modo basilar da existência individual, familiar, social e política: “Oh, valoroso senhor nosso, sob cujas asas nos amparamos, nos defendemos e encontramos abrigo! Sois invisível e não palpável, como a noite e o ar! Oh, que eu, pequeno e de pouco valor, atrevo-me a aparecer diante de vossa majestade! ... Pois, o que então, ó senhor nosso, piedoso, invencível, impalpável, a cuja vontade obedecem todas as coisas, de cuja disposições pende o regulamento de todo a orbe, a quem tudo está sujeito, o que haveis determinado em vosso divino peito?” (Sahagún VI, 1).
  
  
Este padre franciscano Bernardino Sahagun recolheu por relato oral de nobres iniciados astecas muitas lendas bem como a história do povo (Sahagun parece inclusivé ter começado um modo de investigação e validação de relatos que ainda hoje é utilizado pelos antropólogos e inclusivé nas ciencias sociais e humanos). Esses nobres eram canonizados como deuses em Teotihuacan (quinto sol) e não morriam, mas despertavam de um sonho e convertiam-se em espíritos ou deuses. Para os astecas tratava-se de um local lendário, pois acreditavam que aí se tinha dado origem ao quinto sol, quando o deus leproso se sacrificou para criar esta era. A primeira era foi destruída em tempos remotos por jaguares (primeiro sol), a segunda por furacões ou vento (segundo sol), a terceira pelo fogo (terceiro sol), e a quarta desapareceu com um dilúvio de água (quarto sol). Como se constata estão aqui presentes os quatro elementos básicos (terra, ar, fogo e água). 
 
Este povo praticava sacríficios que para nós são enigmáticos (arrancar corações ou a pele a pessoas ainda vivas), pois o sangue humano oferecido aso deuses revitaliza todas as fontes de energia, alimentando as reservas de força simbolizadas, irradiadas e concentradas no e pelo sol. O asteca também se preocupava com o ensino da moral, procurando instruir os jovens para conhecerem as normas que regulamentavam a sociedade. 
Penso que foi com esta civilização que os espanhóis se depararam e que destruiram/aniquilaram pouco tempo mais tarde.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Ontem foi o dia mundial do livro




Há uma professora algures pela Fpceup (I. Menezes) a quem ouvi dizer que caracterizar a participação cívica pelas percentagens de voto, é no mínimo redutor. Há de facto inúmeras formas de participação cívica, e para mim poder celebrar o dia de amanhã (viva a revolução dos cravos), bem como o dia de ontem (dia mundial do livro), é participação cívica. É óbvio que não necessito de dia mundiais disto e daquilo ou feriados nacionais, para participar civicamente, posso fazê-lo em casa sentadinha no meu sofá, quando assino uma petição na net. 
A importância do agir, do sentido das coisas, da consciência, do participar, do rebelar, é por si só ser cívico. Civicos somos todos, a partir do momento que estamos sob um estado. Agora o conseguir existir civicamente isso é outra coisa...

Ontem, estive na Nova Acrópole, numa actividade de partilha sobre livros amados, odiados, idolatrados, desconhecidos, fantasiosos, científicos...  Devo dizer que gostei particularmente de um comentário partilhado de Kafka que referia algo que assumi como se eu fosse algo que tenho vindo a pensar: se os livros de algum modo não nos ferem, de que serve lê-los? A personificação de livros e as emoções como mananciais, foram indubitavelmente marcadores desta agradável noite.

domingo, 20 de abril de 2008

Criação da orbe: Caos e Ordem


"No início, o Supremo criou a existência. Porém, em tudo que concebeu notou a dualidade e, observando aquilo tudo, decidiu-se por dividir. Nasciam, na Orbe, Caos e Ordem, os novos deuses da existência, os quais batalhariam através dos milénios pela supremacia..." (Cristiano Oliveira, 2004, 3ª edição)

1. Pressupõe-se o nada como não existência, mas o nada não é real, o caos é real e existe. De entre teorias criacionistas, evolucionistas, miticas, religiosas, parece ser comum a ideia de um inicio surgido da ordem imposta no caos, (do grego kháos: imensidade do espaço; do latim chàos: confusão, mistura confusa dos elementos, os infernos,escuridão, trevas).


2. O modo como concebemos a ordem e o caos não é só um resultado da nossa perspectiva perante a vida, nem dos acontecimentos que neste ciclo ocorrem, mas essencialmente dos valores que são basilares para nós. Ora pensa: o que é mais importante para ti? Tu, os teus amigos, o teu carro, a tua família, o teu gato, o teu bloco de notas? O que te confere ordem ou caos? E caos na ordem? O que buscas? O que causas? A necessidade de ordem ou de caos ou de ambos surge de onde? Como geres a co-existencia destes deuses em ti?